Acredita-se
que a sociedade atual está vivendo em um mundo que se tem como nomenclatura de
pós verdade. Que hoje, determinadas ideias que antes parecia um extremo absurdo
se transforma em uma “realidade” apenas pelo fato de repetir essa ideia várias
e várias vezes. Mais ainda quando muitos não preferem acreditar no que está
escrito em livros determinadas ideias. Que esses mesmos livros estão sendo
ultrapassados pela “nova mentalidade” ou pela “nova verdade” dos dias de hoje.
Por muitos acreditarem nisso, não se deixa de sentir calafrios em saber que
possivelmente o “futuro” de Fahrenheit 451 se transforme em uma triste
realidade. Ao menos a obra está aí para ajudar em uma reflexão incômoda em como
viver em uma sociedade no qual a leitura é proibida e que a sociedade é tão
manipulada por ideais falsos e concepções errôneas.
A
nova adaptação do conto de Ray Bradbury estreou essa semana na HBO e conta com
um elenco de peso como Micheal Shannon, Micheal B. Jordan e Sofia Boutella.
Além do mesmo Jordan produzir essa nova versão do livro. A nova versão mantém
algumas bases importantes: a divisão de bombeiros Fahrenheit 451 é um dos
órgãos mais respeitados nesse futuro distópico que cumpre um dever fundamental
para essa sociedade: ao invés de apagar incêndios, os mesmos tocam fogos em
materiais “subversivos” que são os livros. Para eles, a queima desse material
traz a igualdade e com a “igualdade” uma sociedade feliz.
A
trama avança quando o bombeiro Guy Montag que nessa versão é um tipo de
influencer que tem sua popularidade alta por queimar livros para a mídia local
e nas redes sociais. Após um incêndio massivo que leva a morte de um “rebelde”,
ele começa a questionar o seu papel como bombeiro e cada vez mais começa ter
sua mente aberta pelos livros e principalmente da realidade que o cerca.
Para
quem ao menos assistiu o filme de Truffaut ou leu o livro sente a decepção na
ponta da língua para a nova versão da HBO para o projeto. Para começar, o
desperdício de não utilizar a questão da distopia para debater o medo da
sociedade e quando começa os “questionamentos” da trama, não vem de uma maneira
natural, mas sim em uma situação forçada que não convence nem um espectador
comum que não conhece a obra original.
Por
mais que Micheal B. Jordan atue muito bem e provando ser um dos melhores atores
da atualidade, a sua versão de Montag não convence em quase nenhum momento da
sua “conversão” literária. A única vantagem do seu personagem é de semear o
debate do uso de farmacologia para controlar a mentalidade da sociedade.
Micheal Shannon continua com seu caminho de fazer vilões memoráveis e acima de
tudo, entregando uma atuação competente e até mesmo ser mais profundo que o
protagonista. E para completar o elenco, Sofia Boutella apenas faz uma
personagem que foi reduzida a interesse romântico que não entrega muito para a
trama.
Se
perde uma grande oportunidade de ver uma adaptação atualizada de um dos contos
mais escalofriantes da ficção cientifica. A nova versão de Fahrenheit 451 é
apenas mais um filme de futuro distópico que assola o cinema atual que se sabe
que existe os debates e os tópicos incômodos, porém não vai além disso e
somente fica com um visual arrojado e atualizado. Ao menos o novo projeto
consegue fazer dois propósitos … Buscar o filme de 1966 ou o livro original. Uma grande oportunidade perdida.
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