Tomb Raider - A Origem

O disco se repete. O debate sobre as adaptações de games para outras mídias continuam a ficar calorosos com a volta de Lara Croft sendo que ao invés da figura imponente de Angelina Jolie representando a Lara da época dos jogos do final dos anos 90, vem uma energética e ao mesmo tempo sentimental Alicia Vikander com sua Lara baseado na “nova” trilogia de Lara. O filme em si detém problemas, mas ao mesmo tempo volta a dar um espaço mais importante para um debate: o senso de espaço de uma adaptação.

O novo filme é baseado no segundo e mais bem sucedido reboot da saga de Lara que ao invés de mostrar aquela Lara que o mundo estava acostumado, veio uma nova personificação da personagem: mais nova, atlética e que tenta buscar seu lugar no mundo. No filme, chegando quase seus 21, Lara ainda não admite a morte do pai dela. Entretanto ao resolver um pequeno enigma na leitura do testamento, leva Lara a uma jornada a uma ilha misteriosa sobre uma deusa sobrenatural.

O que acontece a partir daí, para quem jogou o jogo de 2013, é uma sucessão de obviedades. Mas isso por incrível que pareça não atrapalha nada a narrativa. Enquanto o jogo é extremadamente arrastado por esse lado (também para justificar o tempo do jogo), o filme não faz perder o tempo e é bem direto em relação a isso. Além do fato também que o projeto evitou ser aquele copia e cola 100% do jogo e pegou o fundamental, as sequências de ação para manter a história caminhando.

Alicia Vikander É Lara Croft. Mesmo com muitos ficam na nostalgia e lembrar a Lara como Angelina, nunca perceberam que Angelina era Angelina sendo que vestida de Lara mas nunca foi a personagem em si. Tanto que Alicia em muitos momentos encara não somente de corpo, mas também de alma. Em uma cena em especial na metade do filme, Alicia compreendeu tanto a personagem que faz Angelina ser apenas uma lembrança de um passado.

Por outro lado, se nota o quanto a mão do diretor pesou. Roar Uthaug, do mesmo diretor de A Onda, mesmo com ótimas cenas de ação (principalmente a da fuga nas cataratas) não consegue manter o ritmo em determinados momentos. Além claro de ter um vilão bem direto e fraco, mas que mesmo assim consegue ser um pouco mais interessante que o vilão do jogo de 2013.

Agora existe algo que talvez poucos comentam ou já deram indícios do tema: Tomb Raider consegue ser uma das melhores adaptações de jogos ao cinema por um motivo quase “técnico”: a escala de sua adaptação. Os passos para isso já começam pelo senso de espaço que a adaptação teria na tela grande. Ou no caso de Tomb Raider, pontos específicos que fazem que a trama evolua com naturalidade. Além disso, o benefício das mesmas aventuras de Lara se pode facilmente ser traduzido em um filme de 2 horas sem nenhum problema.

Além disso, não existe aquele problema de uma franquia gigante ser resumida em um filme de duas horas. Se tem um exemplo maravilhoso e recente de Castlevania que preferiu ser uma série animada que um filme e a jogada arriscada deu bastante certo: vai ganhar uma segunda temporada. E como uma terceira via alternativa que é fazer para serviços de streaming como Netflix ou Crackle. Isso por um lado foi pago com a adaptação de Dead Rising que mesmo não sendo um filme bom, mas por ser uma plataforma pequena, deixou aberto para ter seus méritos e seus erros.

Com uma ideia como foi vista em muitas resenhas sobre o filme, Tomb Raider seja um dos primeiros passos concretos para ver a grandiosidade que tem as histórias nos jogos transpassada ao cinema em sua plenitude. Apesar de ter problemas estruturais, em nenhum momento deixamos de ver a verdadeira Lara Croft em ação. E mais ainda, a consciência do seu espaço como adaptação e saber quais são os verdadeiros aspectos que podem ser levados ao cinema transforma a sessão do filme em algo que pode trazer tranquilidade enquanto adaptação.

Claro que os caminhos para uma adaptação perfeita ainda estão longe. Ainda existe esse desbalanceamento entre o que tem que ser adaptado ao cinema ou a uma série de tv e o desejo do jogador de ver seu jogo favorito ir às telonas. Podem dizer que os primeiros passos são tardios … claro, sem sombra de dúvida. Entretanto se esquecem que até seus livros e quadrinhos demoraram décadas para encontrar suas adaptações perfeitas … Então … o desconto para os jogos ainda continua valendo.

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