O Passageiro

Um dos argumentos mais interessantes para uma crítica de cinema sempre será essa: não importa quantas vezes uma história é contada, o diferencial sempre será como você conta essa mesma história. Não se leva a mal, mas esse tipo de argumento sempre terá um problema: o uso dela em uma crítica e também quando o filme se permite essa oportunidade de encaixar na mesma sem parecer algo redundante. Um novo exemplo sobre esse argumento chegará nos cinemas brasileiros nesses últimos dias: o mais novo e o último projeto de Liam Neeson como action man, O Passageiro.

Dirigido pelo espanhol Jaume Collet-Serra, o filme conta o ponto de partida de um homem de negócios que tem uma rotina diária quase imutável: todos os dias pegando o mesmo trem, tanto para ir quanto para voltar. Já conhece alguns dos funcionários e dos passageiros que tomam essa determinada linha. Entretanto, quando voltava para casa, uma mulher misteriosa faz uma proposta irrecusável para que o homem de negócios encontre um passageiro que não faz parte desse mundo. O que começou como um simples jogo começa a ficar cada vez mais escalofriante.

Antes de falar a esmo sobre o filme, existe algo que é pontual comentar: o trailer do filme. Se sabe o quanto os trailers de hoje, principalmente de blockbusters, estão mostrando mais do que devia nos trailers, ao ponto de você assistir e apenas saber ordenar onde começa e aonde termina. Entretanto, o de O Passageiro apenas faz o que muitos deveriam fazer: vender somente o plot da trama e nada mais. E quando o espectador começa a assistir o filme em si, se percebe o quanto ele recebe de informações novas que não estavam no trailer, e mesmo vendo aquela cena espetacular, quando se compreende o contexto que o filme estabelece, ganha um outro frescor.

Jaume Collet-Serra conseguiu algo que poucos diretores que fizeram filmes de ação com Neeson nessa época não conseguiram fazer: explorar de uma maneira mais do que interessante o ator nesse tipo de projetos. E vendo O Passageiro se entende o por que. O diretor em todo o momento quer que você veja o que acontece com o protagonista. Tenta fazer menos cortes possíveis e mais ainda, faz tudo parecer ainda mais espetacular com o ótimo uso de coreografias e efeitos práticos.

O roteiro do filme mesmo com o terceiro ato levando até para um pouco da obviedade, traz um frescor em transformar a jornada desse homem de negócios em um inferno moral já que a cada ato que o personagem faz cria uma sensação de tensão ao espectador que deixa o thriller ainda mais sedutor e principalmente o mais importante: prender o mesmo até o desfecho. Além de contar com um competente Neeson, o elenco traz duas figuras conhecidas: Vera Farmiga, que já tinha trabalhado com o diretor em A Orfã, e Patrick Wilson, que já tinha trabalhado com Neeson em Esquadrão Classe A.

O mais admirável de O Passageiro é que mesmo com uma história contada milhões de vezes dentro do cinema de ação, e até mesmo pelo diretor em Non-Stop, o que transforma em algo sensacional é sua habilidade de contar essa mesma história aliada com um protagonista que conquista de cara e uma tensão crescente que só para nos seus minutos finais. Collet-Serra tem bem claro como transformar qualquer um em um herói de ação: não está nos cortes desnecessários por segundo, mas em cortes práticos e uma boa história. 


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