Buio Omega - Beyond the Darkness

Um dos grandes méritos do pós terror atual (além de voltar a ser os queridinhos da crítica) é ir mais além do esperado. Trabalhar temas mais densos ou diferenciados dentro de um gênero tão fascinante quanto o terror. Deixando em palavra mais simples a volta da interpretação dos fatos pelo espectador diante a um terror que muitas vezes não tem explicação. Entretanto, ainda é possível se assombrar e até mesmo sentir medo de um dos piores monstros de todos os tempos: o próprio homem. Curiosamente um desses limites foi tocado no final da década de 70 com o italiano Buio Omega ou Beyond The Darkness de Joe D’Amato.


O filme tem ponto de partida de uma governanta apaixonada pelo único herdeiro da casa, no qual o cuida durante vários anos, toma uma decisão de fazer uma magia negra para que a namorada do herdeiro morra por uma enfermidade. O jovem herdeiro, que também é taxidermista, desolado pela a morte da amada decide em um ato que podemos dizer “extremo” de subtrair o corpo da moça do cemitério e empalhar ela para a mesma ficar ao seu lado para sempre. Mas as consequências desse ato vão além da loucura e insanidade.

É estranho tomar um ponto de partida ao comentar esse filme. Por que realmente é difícil de se assistir. É uma das experiências mais viscerais após Cannibal Holocaust. E o mais engraçado é saber que em alguns países se chama Blue Holocaust. Por mais que soe estranho, esse nome alternativo consegue carregar até que ponto uma relação que deveria chegar seu fim entra nos processos de loucura e perversão.

Após o seu final, o gosto amargo que se vem ao refletir sobre as relações e seu fim é tão latente quanto cruel. Se poderia dizer que esse espiral de loucura que se retrata no filme passa longe da nossa realidade, mas quantas vezes se escuta e se é testemunha de relações obsessivas? E nesse aspecto doloroso, junto com a violência gráfica, esse projeto detém um olhar perverso e cruel a esse tema.

O gore visto no filme de Joe D’Amato apesar de ser em cenas bem específicas, quando vêm é de uma veracidade impressionante. Além do zoom macabro e incômodo em vários momentos, o mais assustador é o uso do som ao desmembrar pedaços. Seja de vísceras ou de membros, é literalmente escalofriante em muitos momentos. Apesar de não ter aqueles momentos de sustos como quase todos os filmes de terror dessa geração, o assustador em Buio Omega está literalmente no seu tema.

Com uma trilha espetacular de Goblin (Suspiria, Profondo Rosso, Dawn of the Dead), Buio Omega em sua superfície é um sólido filme de terror cheio de cenas perturbadoras e um clímax literalmente assustador. Entretanto, quando se olha além das suas camadas, verás um filme assustador onde a negação do homem em relação a perder alguém pode chegar aos limites do que muitos chamam de moralidade. É possível chamar o filme de amoral, entretanto com a realidade bate a porta, não é impossível ver situações desse filme ou ainda pior se transformarem em realidade.

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